Em uma farta mesa, onde abundavam as panelas cheias e os meio silêncios, uma família reunida repetia o ritual diário de mastigar juntos. Em uma pequena cozinha que também era usada como sala-de-jantar, os aromas da comida se misturavam aos cheiros dos corpos que passaram o dia inteiro a trabalhar. Cinco pessoas formavam o habitual grupo que dia após dia repetia as mesmas poucas frases que nada pretendiam além de quebrar os sons de talheres rangindo contra as louças arranhadas pelo uso.
Sentados em banquetas simples, o pai e seus dois filhos levavam maquinalmente seus garfos à boca, vestindo trajes surrados da lida diária. Comiam sem o cuidado de lavar as mão ou de tirar os chapéus que muito raramente os abandonavam. Em vestidos de chita em estado semelhante, a mãe e a filha se olhavam ansiosas, esperando por uma palavra de conforto ou aprovação que nunca vinha. Sem muito entusiasmo, comiam a comida que invariavelmente preparavam, sem saber se estavam fartas de seu próprio tempero ou da rotina esmagadora que as comprimia naquela cozinha.
Emolduravam aquela imagem uma escassa mobília e alguns utensílios de cozinha, além de uma natureza morta que pendia meio torta em uma das paredes, sobre as cabeças daqueles que ali estavam. A singeleza daquelas frutas em travessa sobre uma mesa, pintada naquele quadro em nada parecia contrastar com a rotina daquele ambiente.
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