Osvaldo passava as madrugadas entre a nostalgia do tempo em que trabalhava como vigilante em uma escola particular e as nuvens que encobriam qualquer sentimento criadas pelo álcool. Passava vastos momentos pensando na doce rotina de trabalhar entre às oito horas da manhã e às seis horas da tarde, na afabilidade de seu público e em quão suave era sua vida, comparada ao que vivia agora.
Em meio aos seus devaneios, Osvaldo foi bruscamente trazido à realidade quando escutou o cantar de pneus que uma kombi velha lançava, lamentosa, em frente ao escuro ferro-velho de que tomava conta na favela A. Sem saber ao certo se aquilo que via era efeito da cachaça barata que lhe fazia companhia ou se era real, o vigilante se deparou com um corpo semi nú do outro lado da rua, próximo ao valão fedorento que costeava aquela avenida lúgubre. Pensou em atravessar a rua e prestar auxílio àquela pessoa, quando a rotina de violência da vizinhança lhe açoitou a face da consciência.
Remoendo a indecisão e o medo, seus pensamentos abalados entraram em turbilhão, misturando o fracasso que a bebida gerara em sua vida com a sempre crescente angústia de um presente tão duro. Decidido a tomar uma atitude, se levantou para socorrer o homem ferido. Passou a mão na garrafa para tomar um gole encorajador, e este levou a outro, e muitos outros goles se seguiram, enquanto o outro que estava estendido junto à vala corria favela adentro.
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