sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Pequeno Infortúnio

O grande salão estava repleto de pessoas iluminadas por uma luz suave. Eram dezenas de casais que se aventuravam por aqueles sofás de couro de alguma forma, dispostos a transcender aquilo que muitos chamariam de uma "vida sexual monogâmica". Em uma primeira tentativa ou como verdadeiros habitués, homens e mulheres levavam seus pares pelo recinto em busca de algo excitante para ver ou, quem sabe, fazer.

Entre os homens de todos os matizes que ali se encontravam estava também Ernesto. Ele não tinha exatamente um físico "possante", embora naquele mesmo lugar se encontrassem outros indivíduos bem piores do que ele. Ao contrário do que se poderia pensar, não levava uma vida "selvagem", sendo a maior "loucura" que cometera até então o episódio em que, frustrado em ter seu carro estragado no dia dos namorados, se contentou em levar Sílvia ao motel de ônibus mesmo. Aliás, Sílvia era sua acompanhante neste programa tão pouco usual.

Sobre Sílvia, podemos dizer que aceitou o convite para visitar a casa de suíngue com muito mais efusão do que Ernesto imaginava. O convite surgiu não entre lençóis nem tampouco em um arroubo de lascívia, mas em uma mesa de bar, quando Ernesto havia passado um pouco da conta em termos de álcool. Quando solicitado a colaborar com o rumo que sua incursão noturna tomaria na companhia de Sílvia e dos demais amigos, Ernesto só disparou uma única palavra: suruba. Na manhã seguinte, pronto para se desculpar pelo seu comportamento inadequado, foi surpreendido por Sílvia munida de um papel em que estavam anotados o nome, o endereço e o valor do investimento na mencionada casa de troca de casais.

Dessa maneira, se encontrava todos alí naquele momento: Ernesto, Sílvia e diversos outros casais cobiçosos dos pares alheios. Enquanto buscava se ambientar, nosso estreante na arte da libertinagem punha seus olhos nos convivas, reparando em seus modos e atitudes, quando percebeu (e não sem um certo espanto, é preciso dizer) um cutucão por trás. Antes que pudesse defender sua hombridade ante estranho que chamava sua antenção de uma forma tão canhestra, Ernesto ouviu:

- Haroldo!
- Ernesto.
- Hã?
- Meu nome é Ernesto.
- Você não não é o filho da dona Mira?
- Sim, sou eu mesmo.
- E não me reconhece?
- Claro que não!
- Ah, que bobagem! Com esta máscara não tinha como reconhecer mesmo. Espera. E agora?
- Ainda não.
- Sou eu! O Vavá!
- Quem?!
- O Valdomiro, filho da Marizete e do Agenor, que morava três casas depois da sua. Nós jogávamos futebol juntos.
- Ah. Pois é. Como vai?
- Levando, levando. E você, vem sempre aqui?
- Não, é a primeira vez.
- E veio sozinho?
- Não, vim com a minha noiva. Onde ela foi se meter?
- Veja só! Noivo, hein? Então se livrou daquela safada que você namorava naquela época?
- Na verdade, é com ela que eu noivei, a Sílvia.
- Opa. Não leve a mal. Safada é um modo figurado de falar. Tipo "venceu na vida, a safada". Entendeu? Na verdade, sempre achei ela uma moça muito recatada.
- Sei. Não me leve a mal, mas eu preciso ir andando.
- Claro, claro. Safado.

E com um meio sorriso nos lábios, Ernesto saiu à procura de Sílvia, que suportava com abnegada bravura uma dupla penetração naquele momento.